O Brasil tem como pilar de sua política externa e de suas relações internacionais a posição de neutralidade em conflitos entre nações estrangeiras, mas Lula tem dado repetidos sinais de que desconhece – ou prefere ignorar – essa postura histórica. O Presidente da República tem insistido em assumir uma posição de protagonismo na busca por uma solução para a guerra entre Rússia e Ucrânia; e ao fazê-lo tem cometido erros estratégicos que abalam, dentre outras coisas, a harmonia entre Brasil e Estados Unidos.
Lula chegou a sugerir que a Ucrânia cedesse os territórios de Donbass e da Criméia à Rússia, como forma de conter a sede de expansão de Vladimir Putin. Disse ainda que a Ucrânia também é culpada pelo conflito, não apenas os russos, e que EUA e OTAN estariam incentivando a guerra. As declarações caíram como bombas em Washington, e não estivesse Joe Biden em posição tão frágil à frente da Casa Branca é muito provável que a reprimenda da porta-voz do governo americano Karine Jean-Pierre tivesse sido apenas o primeiro passo rumo a um abalo sísmico de proporções catastróficas nas relações entre os dois países.
NOVAS TRATATIVAS
Em Londres, onde prestigia a coroação do novo Rei da Inglaterra, Charles III, o chefe do Planalto falou mais uma vez sobre o tema. Lula disse já ter conversado com o presidente francês Emmanuel Macron e que procuraria durante o fim de semana o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi: “é a chance de conversar com quatro grandes e quem sabe a gente encontra jeito de começar a conversar”, pontuou. “Alguém no mundo vai ter que convencer a parar essa guerra”, completou o presidente.
Enfrentando seríssimos problemas internos em sua gestão, Lula parece ávido em se tornar figura de destaque no cenário geopolítico global. Talvez não tenha se dado conta ainda de que o Brasil não tem poder de barganha, muito menos cacife diplomático, para impulsionar suas ambições pessoais; e que possivelmente Macron, Modi, Putin, Zelensky e cia não o levam tão a sério quanto ele aparenta acreditar.