Semanas atrás, enquanto se divertia na festa de casamento da filha de um amigo em um hotel de luxo do Rio de Janeiro, Alexandre de Moraes foi perguntado sobre a instabilidade política que o Brasil vinha enfrentando, se havia previsão de calmaria.
“Vai piorar antes de melhorar. Cerca de seis meses para tudo estar resolvido”, respondeu o ministro, talvez não nestas exatas palavras, mas certamente com este mesmo sentido e cronologia. Nenhuma novidade, sabemos quem distribui as cartas, mas algo não está batendo.
Sim, falta ainda bastante tempo para o duplo quartil estipulado como prazo, Bolsonaro foi tornado inelegível hoje, ele era a causa da turbulência. Moraes errou na conta? A coisa andou mais rápido que o previsto? A resposta é… não.
Arrancar Bolsonaro da disputa sempre foi o tiro de largada para que a verdadeira guerra começasse, aquela que todos sabiam que viria, desde lá atrás, quando a chapa Lula-Alckmin foi anunciada. Os seis meses não se referiam à inelegibilidade de Jair Bolsonaro, mas sim à ascensão do padrinho intelectual do homem mais poderoso do Brasil, aquele que o trouxe para a cena política e o preparou para este momento, para esta função. Geraldo Alckmin é o criador por trás da criatura. A criatura, claro, é Alexandre de Moraes.
A volta do tucanato ao poder estava prevista já para 2018, após Fernando Henrique Cardoso se vingar de Lula por quebrar a corrente do famoso teatro das tesouras e eleger Dilma Rousseff. Bolsonaro foi um fenômeno único, um fator surpresa que alterou o resultado da equação. Para não correrem o mesmo risco novamente, se uniram. Juntos, eliminaram a ameaça.
O que veremos daqui em diante será o vale-tudo entre dois lados da mesma moeda, falsos antagonistas que nunca se importaram com as regras do jogo; e que, não fosse a megalomania de Lula, estariam até hoje se revezando no poder. Desta vez, porém, a briga é para valer.
A calmaria virá com a queda de Lula – e sem Bolsonaro para se beneficiar disso. Alckmin na presidência, Moraes pendura a toga de Lex Luthor e recupera sua vida social. Mas o PT não se entregará fácil. Chegou a hora de se sentar confortavelmente na última fila do cinema e observar, bem de longe, a hiena e a cobra brigarem pelo direito de destruir o que restar do Brasil.