JORNALISTA DA GLOBO NEWS ACORDA DO SONHO E MERGULHA EM PESADELO

Gerson Camarotti foi um crítico assíduo de Jair Bolsonaro durante todo seu governo, irascível ao ponto de jogar o profissionalismo às favas caso isso significasse prejuízo para o ex-presidente da república e de fingir demência a cada passo da escalada autoritária de quem de fato dilapidava nossa democracia. Faltava motivo? Lá estava ele, costurando sua retórica e inventando um. Para Camarotti não havia situação em que Bolsonaro pudesse estar certo; no silêncio, pecava pela omissão. Na ação, errava a direção. Respirou Jair por longos 48 meses, e não estava disposto a encarar aquilo por mais quatro anos.

UM PASSADO QUE PARECE ONTEM

Chegamos a 2022, ano de eleição presidencial, e o supostamente imparcial jornalista da imprensa tradicional resolve abraçar a candidatura de Lula como o náufrago se agarra a uma pedra perdida no oceano. Se racionalidade e profissionalismo já eram parte de um passado distante, Camarotti inova, renova o repertório, adiciona fator novo à equação: a paixão. E assim foi, campanha e governo adentro. O homem que vai salvar a democracia e espantar o fantasma do fascismo venceu.

AMOR X PAIXÃO

Mas se o amor dura, a paixão é efêmera, e não demora muito o cabo eleitoral número 1 do agora presidente percebe que seu escolhido não havia se transformado exatamente no Mandela tupiniquim que ele julgava necessário, mas sim em uma versão degradada, física e moralmente, do homem que já havia comandado o maior esquema de corrupção da história do Brasil – e que por causa dele foi abandonado para apodrecer na cadeia.

Sim, Lula era carta fora do baralho, mas graças a pessoas como Gerson Camarotti, que não suportaram a ideia da alternância de poder, do diametralmente oposto ao que ele considerava correto ter seu turno, que o presidiário inconveniente foi alçado à condição de salvador da democracia. Camarotti sempre soube quem era Lula, mas a simples existência de Bolsonaro serviu, não só para ele, mas para muitos outros que agora rangem dentes e franzem a testa, como uma espécie de Alzheimer seletivo, que preserva tudo que não seja Lula ou PT em sua memória.

FINDA A LINHA, ACABA O PANO

Agora, confrontado novamente com a inevitável realidade (ou desperto do sonho diretamente em um pesadelo), Camarotti externa seu quase comovente desapontamento. Não adianta, meu amigo. Não mais. Desnudo do profissionalismo, da imparcialidade e da sensatez, só lhe resta uma coisa a degustar: o arrependimento – este provavelmente bem mais doloroso e duradouro que aqueles agora saudosos quatro anos de fascismo imaginário. Bem-vindo à pedra, pena que a maré subiu.

Confiram o vídeo.

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