Bastou o presidente da câmara dos deputados, Arthur Lira, engrossar um pouco o discurso e dificultar a vida do governo Lula para sentir na pele o peso da dívida com o judiciário. A queda da medida provisória que criou uma leva de novos ministérios teria um impacto brutal no Planalto. A multiplicação de pastas significa, na prática, a geração de cabides de emprego e cargos do primeiro escalão a serem distribuídos em troca de governabilidade. Sem eles, uma articulação que já era considerada fraca se tornaria nula, restrita apenas à esquerda radical composta por partidos como o próprio PT, PCdoB, PSOL e, talvez, MDB, PSD e PSB.
Durante todo o dia de ontem havia no ar de Brasília a certeza da queda da MP, fosse através de votação ou por caducidade. Mas foi aí que entrou em campo o juiz da partida. Por volta das 21:30h, com a votação prestes a ter início, o ministro Dias Toffoli liberou para o plenário do Supremo uma ação (até então há três anos esquecida em alguma gaveta empoeirada do STF) contra Lira e mudou completamente a temperatura da casa. Para garantir, R$ 1,7 bilhão em emendas do antigo orçamento secreto, operação da Polícia Federal mirando aliados do deputado em Alagoas, e, como em um passe de mágica, os ministérios são mantidos. Com a lânguida porém decisiva participação do agora acuado presidente da câmara.
SEMANAS TURBULENTAS NO HORIZONTE
Duas coisas ficaram claras ontem. A primeira é que, enquanto o governo tiver dinheiro para bancar, o congresso está à sua disposição. São pouquíssimos os parlamentares que não estão à venda. A segunda, no frigir dos ovos, na hora da verdade, quando o jogo chega em sua fase decisiva, o judiciário faz o que julga necessário e o legislativo é reduzido a adereço constitucional. O que isso não muda é o fato desse modelo não ser sustentável, pelo menos não por muito tempo. Ou o parlamento baixa a crista e aceita o toma lá dá cá sem fazer careta ou muito em breve teremos o tão aguardado confronto entre legislativo e judiciário.