O ano era 2008, e o senhor Lap Wai Chan, empresário chinês e sócio estrangeiro da Volo do Brasil, empresa responsável pela aquisição da Varig em 2006 e posterior venda da companhia no ano seguinte, havia sido convidado a comparecer perante os senadores da Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) para abordar denúncias de irregularidades no processo de venda da empresa. O requerimento foi apresentado pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI) e aprovado durante audiência pública realizada em 03/07/2008 na qual Marco Antonio Audi, um dos três sócios brasileiros da Volo Brasil, foi ouvido pelos parlamentares.
Durante a reunião, Audi acusou Lap Chan de descumprir acordos estabelecidos durante a venda e de prejudicar o funcionamento da VarigLog, empresa então controlada pela Volo. O empresário brasileiro também acusou o advogado Roberto Teixeira de defender os interesses de Lap Chan em detrimento dos sócios brasileiros.
No mesmo encontro, os senadores aprovaram mais dois requerimentos, convidando outras pessoas envolvidas no caso Varig a prestar depoimento à comissão. O primeiro, também de autoria do senador Heráclito Fortes, propunha a convocação de João Helídio de Lima Filho, ex-procurador-geral da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O segundo, iniciativa dos senadores Tasso Jereissati (CE) e Sérgio Guerra (PE), ambos do PSDB, solicitava a presença de Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins, ambos na época sócios do escritório de Roberto Teixeira. Valeska Martins, esposa de Zanin, é filha de Roberto Teixeira e afilhada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os advogados foram acusados por Denise Abreu, ex-diretora da Anac, de tráfico de influência na venda da companhia aérea.
O caso Varig continua sendo um dos maiores escândalos dos primeiros mandatos de Lula, acusado de sabotar a empresa em favor de TAM e GOL. A empresa, até então a maior companhia aérea do Brasil, enfrentou um processo de falência no ano de 2006. Segundo Paulo Antony, ex-comandante da Varig por mais de 20 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT), sob a liderança de Lula, foi o principal responsável pelo colapso. Segundo Antony, os problemas começaram em 2002, quando membros do PT abordaram o então presidente da companhia, Ozires Silva, solicitando contribuições para a campanha de Lula à presidência. Ozires, no entanto, teria recusado categoricamente. Após esse episódio, José Dirceu, então presidente do PT, afirmou que, se o partido fosse eleito, a Varig seria negligenciada. E foi exatamente isso o que aconteceu.
BNDES SÓ PARA OS AMIGOS
Enfrentando uma dívida de R$ 8 bilhões, o governo negou assistência financeira do BNDES à Varig, enquanto concedia empréstimos generosos a Cuba e Venezuela. Além disso, Dirceu pressionou a Infraero a prejudicar a Varig e proibiu a BR Distribuidora de fornecer crédito à empresa para abastecer suas aeronaves. A prioridade era ajudar a TAM e a GOL, companhias aéreas de amigos do PT. O advogado Roberto Teixeira, sogro de Cristiano Zanin e amigo de Lula, também desempenhou papel crucial na falência da empresa. Durante a crise, a Varig foi vendida por US$ 24 milhões para o grupo chinês Larchan e, com a ajuda de Teixeira, foi revendida alguns meses depois para a GOL por US$ 275 milhões. O escritório de Teixeira, do qual Zanin era sócio, recebeu US$ 5 milhões nesse processo.